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“O tamanho de uma área de floresta tropical é mais importante para a ocorrência de espécies de pássaros do que seu relativo isolamento”.

Esse é resultado de um estudo feito por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e pelo H. John Heinz Center for Science, Economics and the Environment, e publicado na Science de 12 de janeiro de 2007, com o título "A Large-Scale Deforestation Experiment: Effects of Patch Area and Isolation on Amazon Birds".

Pássaros. E daí?

E daí que a tal da quantidade de espécies de pássaros é um indicador de biodiversidade e esse resultado está diretamente relacionado não somente com a escolha de áreas para criação de reservas e/ou parques, mas também para definir qual o tamanho mais apropriado para essas áreas e consequentemente sua forma de gestão. Para a Amazônia, segundo o estudo em questão, fica evidente a importância de se proteger grandes áreas de floresta primária.

Mas afinal o que é essa tal biodiversidade?

Biodiversidade é toda a variedade de organismos vivos em todos os ecossistemas do planeta. Inclui também todas as interações e processos entre esses organismos, populações e ecossistemas. Entre os argumentos que justificam a importância ecológica e econômica destacam-se:

+ A biodiversidade facilita o funcionamento dos ecossistemas, permitindo que o planeta se mantenha habitável (por exemplo: trocas de carbono, manutenção das fontes de água superficial e subterrânea, proteção e fertilização dos solos, regulação da temperatura de do clima, dentre outros);

+ Oferece valores estéticos, científicos, culturais, dentre outros valores universalmente reconhecidos, mesmo sendo intangíveis e não monetários;

+ É a fonte de muitos produtos utilizados pela sociedades contemporâneas: alimentos, fibras, produtos farmacêuticos, químicos etc., além de ser a principal fonte de informações para o desenvolvimento da biotecnologia;

+ A biodiversidade é a base para as culturas agrícolas e para o melhoramento e desenvolvimento de novas variedades;

+ A beleza e a singularidade de diversos ecossistemas têm valor para uma série de atividades recreativas e de ecoturismo.


Os resultados desse estudo fazem parte de uma enormidade de pesquisas realizadas sob o guarda-chuva Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, ou simplesmente PDBFF. Com recursos do INPA e pelo Instituto Smithsonian foi iniciado em 1979 quando o governo do estado do Amazonas destinou uma área de aproximadamente 500 mil hectares nos arredores de Manaus para ser explorada comercialmente, ou seja, para a formação de fazendas.

A legislação brasileira por meio de seu código florestal obriga os fazendeiros a manter boa parte de floresta intacta em suas propriedades e o tamanho dessas áreas varia de Estado para Estado. Na Amazônia Legal é de 80%, mas há um perigoso movimento na Camera dos Deputados para diminuir para 50%. Como as fazendas seriam abertas de qualquer maneira os pesquisadores do PDBFF escolheram 23 fragmentos florestais, variando entre 1 e 1000 hectares, em meio a pastagens e florestas contínuas e assim estudar a dinâmica biológica desses fragmentos.

A missão do PDBFF é determinar as conseqüências ecológicas da perda de habitat e fragmentação das florestas, e disseminar essa informação para aumentar a conservação e o uso racional dos recursos florestais.

Regina Luizão, PhD, que aparece na foto no começo do texto, é a atual responsável pelo PDBFF. Estivemos em um dos oito acampamentos para pesquisa que ela coordena de seu escritório no INPA em Manaus.

Ela explica o chamado efeito de borda a Jean Micheal Cousteau:

“...depois de abandonadas, as pastagens viram capoeiras que começam a invadir os fragmentos de floresta e competem por espaço, luz e nutrientes. É uma transição brusca entre os dois habitats que não aconteceria em ambiente natural. A luz que penetrava apenas verticalmente passa a penetrar horizontalmente mudando o micro clima dessas áreas e afetando seus processos ecológicos”.


Entre outros resultados do PDBFF destacam-se:

· A fragmentação das florestas resulta numa substancial perda de biomassa florestal, principalmente pela elevada mortalidade de árvores.

· Grandes árvores são mais vulneráveis à fragmentação.

· Perda de biomassa em fragmentos florestais é uma fonte significativa de gases de efeito estufa.

· A fragmentação seguida da perda de habitat é a principal ameaça nos ecossistemas florestais.

A perda de biodiversidade é um problema global que requer soluções globais. O Brasil, devido principalmente aos dois terços que detém da bacia do rio Amazonas, é o país de maior importância nesse contexto. Temos a ciência a nosso favor como procurei demonstrar nesse relato. É preciso coragem política para ignorar alguns interesses locais e aproveitar as oportunidades que esse contexto nos oferece.