06 / O Novo Jari.



A história dos grandes empreendimentos internacionais privados na Amazônia está recheada de grandes fracassos e alguns sucessos. Entre os fracassados temos a ferrovia Madeira-Mamoré, que se eternizou não por sua função de transporte de mercadorias e saída para os produtos da região, mas pela quantidade de mortos durante sua construção e total não aproveitamento de sua capacidade instalada. Ao fim da construção era praticamente nada. Um “trem fantasma”.

Tem também o caso de Henry Ford, que decidiu implementar um cultivo racional de seringueiras na região do rio Tapajós, próximo a Santarém. Ele não queria durante a II Guerra depender da Malásia como unico país fornecedor.

A falência do empreendimento que se iniciou em "Fodlândia" e depois mudou para Belterra, foi o advento dos materiais sintéticos.

O Projeto Jari, que foi idealizado no final da década de 60 por um dos homens mais ricos do mundo da época, o empresário norte americano Daniel Ludwig, já foi também citado como um grande fracasso. Uma “aposta bilionária” que esse visionário perdeu. Ludwig amargou enormes prejuízos financeiros e teve que vender seu “sonho” quinze anos depois. É também verdade que Ludwig tinha quase 80 anos quando iniciou o Jari. Seus “sonhos” estavam presentes em todos os continentes do Globo. Hotelaria, navegação, construção, agricultura faziam parte de seus incontáveis negócios.

Ludwig esperava suprir parte da demanda internacional de celulose para fabricação de variados tipos de papéis, exatamente como acontece nos dias de hoje.

Atualmente o Jari é controlado pelo grupo Orsa, que por sua vez é comandado pelo empresário brasileiro Sérgio Amoroso, que é da cidade de Birigui, interior paulista.

A área que pertence ao grupo é de 1,7 milhões de hectares, sendo que 7% são usados para o plantio de eucaliptos e aproximadamente 500 mil hectares têm o manejo sustentável de madeira nativa (a segunda maior área do mundo nesse quesito). Para que tenha noção do que significa uma área de 1,7 milhões de hectares, faça uma comparação com o Parque Nacional do Jaú. Ele é o segundo maior Parque Nacional do Brasil e tem 2.2 milhões de hectares.

Na primeira vez que estivemos no Jari, aterrizamos no pequeno aeroporto de Monte Dourado. Era de noite e usamos um vôo da Puma Linhas Aéreas que partiu de Santarém. Durante o trajeto aeroporto-centro, o que se via era estranho. Ao invés da forma desconfigurada e surpreendente de uma floresta nativa, a claridade dos faróis nos mostrava uma unidade quase perfeita de árvores finas, dispostas em fileiras intermináveis. Uma floresta nova, uniforme e sem cheiro. Fica nítido que tudo ali foi plantado.

De dia, porém, e de algum lugar mais alto e com vista panorâmica, talvez olhando do Amapá para o Pará, é possível avistar a incrível proporção entre o plantio de eucaliptos, a floresta nativa e a vegetação baixa de beira de rio em volta do rio Jarí. É esse rio que dá nome ao empreendimento. Ele nasce nas montanhas do Tumucumaque, divisa com a Guiana Francesa e Suriname. Sua foz é no rio Amazonas. Ao longo de todo o seu percurso divide os estados do Pará e Amapá.

Visitamos todo o processo produtivo. Do viveiro de mudas até a celulose embalada em unidades de 2 toneladas prontas para embarcar. De toda a produção, 80% é exportada para a Europa e outros 20% divididos entre os mercados brasileiro e norte americano. No ano de 2005, a produção atingiu seu recorde atingindo 364 mil toneladas de celulose branqueada.

A fábrica que transforma a madeira em celulose está sobre duas enormes plataformas e foram construídas no Japão. Foram trazidas para cá via navegação, percorrendo 28.706 km. Segundo Cristóvão Lins, que escreveu um livro muito interessante (Jari, 70 anos de história), esse episódio não teve similaridade na história da marinha mercante mundial e somente uma empresa aceitou o desafio de fazer esse transporte. As plataformas foram e até hoje se encontram assentadas sobre 3700 toras de maçaranduba, uma espécie de árvore abundante na região.

Dos 56 mil hectares plantados de eucalipto, 12 mil hectares estão no estado do Amapá, do outro lado do rio Jari. Foi nessa plantação que nos levaram para acompanhar a colheita das árvores. Para se chegar lá partindo de Monte Dourado tem-se que viajar por inúmeras estradas abertas pelo projeto. Essas estradas cortam a nova floresta uniforme em todos os sentidos. Em alguns momentos é possível avistar plantações que se perdem de vista.

O serviço da colheita é totalmente terceirizado e as máquinas chegam a cortar e depois picar, em 5 ou 6 pedaços, 2 árvores por minuto. É impressionante.

Do viveiro das mudas até o corte da árvore adulta são aproximadamente 6 anos, e as árvores de eucalipto chegam a 30 metros de altura. Tempo mais de duas vezes menor que em países concorrentes.

A maioria dos funcionários que trabalham na produção de celulose veio outros estados do Brasil, em geral, em busca de melhores oportunidades de trabalho. É a primeira geração.

Um deles, o engenheiro florestal responsável pelo viveiro de mudas que tem capacidade instalada para 14,4 milhões, me explicou que o eucalipto utilizado no processo da celulose não tem cheiro:

- O eucalipto de cheiro tem um óleo que prejudica o processo de extração da celulose ou da “pulp”.

É também uma floresta. Muito produtiva é verdade, mas sem cheiro.